terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Teoria do Caos e a Vida Cotidiana

Autora: Salete Souza de Oliveira
Artigo escrito para a Revista Vida Simples/Editora Abril



A eternal batalha entre a ordem e a desordem, a harmonia e o caos, figura em tantos mitos da criação, e em tantas culturas. Na teologia do antigo testamento, “A terra era sem forma e vazia, e as trevas cobriam o abismo”. Na Grécia antiga, o caos era um vazio abissal .

Caos nem sempre é uma coisa ruim no sentido de pura desordem. O que o matemático James Yorke estava querendo dizer quando tomou este termo emprestado em 1975, era desordem ordenada - um padrão de organização existindo por trás da aparente casualidade. E isso é uma coisa muito boa. Na ciência o caos não tem as mesmas conotações que teria no uso cotidiano. Confira o que diz o dicionário: Caos, s.1. A matéria desordenada e sem forma que existia antes do universo ordenado. 2. Completa desordem, absoluta confusão.

O significado a seguir foi proposto em uma conferência internacional sobre caos, patrocinada pela Royal Society de Londres em 1986. 3. (mat) Comportamento estocástico que ocorre num sistema determinístico. Em outras palavras, O caos é, “Comportamento sem lei, inteiramente governado pela lei.”Será que é possível aplicar a teoria do caos a vida cotidiana? Façamos algumas reflexões.

A ciência descobriu que sistemas que obedecem a leis imutáveis e precisas nem sempre atuam de forma previsíveis e regulares. Leis simples podem não produzir comportamentos simples e vice-versa. Um quarto de um jovem pode ser totalmente desorganizado do ponto de vista dos pais, ou da pessoa que tenta arrumá-lo, mas certamente não é para o jovem. Se perguntarmos por qualquer item que se encontra no quarto, o jovem certamente saberá onde se encontra. Uma estante organizada por autor é caótica para quem está acostumado a organizar seus livros por assunto.

O relógio simbolizou, para muitos autores, a ordem do universo. Seus movimentos são totalmente previsíveis. Para saber como funciona um relógio, basta desmontá-lo e compreender como suas peças se encaixam. Da mesma forma, para compreender o mundo no qual vivemos bastaria desmontá-lo, descobrir como funcionam suas partes e tudo se revelaria, ou seja, seríamos capazes de prever o comportamento do mundo daqui a alguns segundos, minutos horas e anos.


Para demonstrar a crença na determinação, característica da ciência clássica, podemos imaginar o transito de uma cidade. Imaginemos que o departamento de transito saiba todas as informações sobre o transito: o mapa da cidade, o tempo de todos os semáforos, a média de velocidade de cada carro, a origem e o destino de todos os carros, o tempo de partida. Diante de todos esses dados e, com um computador potente o bastante, seria possível prever todas as situações possíveis e manter o transito perfeitamente ordenado, sem engarrafamentos, porém se analisarmos de forma ampla notamos que existem ainda outras condições que não foram inseridas no programa, como por exemplo, um único motorista que se distrai olhando para algum evento pode provocar um acidente, que provocará outro acidente e assim sucessivamente. No final teremos um engarrafamento.

Nesse ponto vem o que podemos chamar de controle da história. As vezes achamos que fazendo tudo certinho e ordenado teremos controle do nosso futuro e de nossa história, mas este exemplo do trânsito nos mostra que um motorista desatento, pode causar a morte de um outro totalmente metódico e ordenado no trânsito e aí nos vem uma outra idéia de dependência de fatores externos para determinados acontecimentos, ou dependência das condições iniciais.

Lorenz descobriu algo surpreendente: pequenas mudanças ou pequenos erros em determinadas variáveis produziam efeitos tremendamente desproporcionais num determinado sistema. Para um período de uns dois dias, elas mal faziam diferença; mas extrapolando-se para um mês ou mais, as mudanças produziam padrões completamente diferentes. Lorenz chamou sua descoberta de "efeito borboleta", tirado do título de artigo que ele publicou em 1979:

"Previsibilidade: pode o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado no Texas?" Em outras palavras: fatores insignificantes, distantes, podem eventualmente produzir resultados catastróficos imprevisíveis?

A maioria dos sistemas não pode ser determinado em decorrência da chamada dependência sensível das condições iniciais, ou efeito borboleta. Parece brincadeira, mas não é. Fenômenos em que um pequeno fator provoca grandes transformações são mais comuns do que se pensa. Os jornais têm anunciado casos de pessoas que, em decorrência de um pequeno atraso na hora de sair de casa, perderam o ônibus, o que levou a um atraso. No final não conseguiram pegar o avião, e o avião caiu. Um segundo de atraso foi a diferença entre a vida e a morte para essas pessoas.



Em termos filosóficos, a Teoria do Caos nos dá uma interessante perspectiva a respeito do destino. O destino existe? Essa questão tem inquietado pensadores desde a origem da humanidade. A ciência clássica, com seu determinismo, dava abertura para a aceitação do destino, pois todos os acontecimentos já estavam previstos.

A Teoria do Caos, por outro lado, propõe também uma idéia de destino, ou seja, há uma determinação, até o ponto em que um efeito borboleta incida sobre o sistema. Em termos filosóficos, podemos dizer que o destino existe, mas nós o modificamos toda vez que fazemos determinadas escolhas que vão influenciar o futuro. Visualmente, isso pode ser imaginado como uma estrada com diversas bifurcações. A cada bifurcação, a escolha daquele que caminha, muda o caminho e, portanto, o seu destino. Note que existem muitos comportamentos futuros de sistemas físicos que podem ser previstos, pois os cientistas conhecem as equações e variáveis que influenciam no comportamento futuro do sistema. Eu mesma fiz um modelo matemático de uma coluna de aço e pude prever o comportamento daquela coluna de aço após o carregamento e após determinadas condições iniciais impostas. Após levar uma coluna semelhante a um laboratório. O comportamento que foi modelado aconteceu na realidade.

Quando você cria algo, você é capaz de modelar o sistema e determinar o comportamento desse sistema de acordo com sua equação e algumas condições iniciais impostas, mas existem sistemas que podem ter infinitas condições iniciais, imagine em relação a cada um de nós é impossível. Existem condições iniciais imposta sobre nós desde o nosso nascimento e em cada condição imposta o futuro essencialmente depende delas.

Na área da comunicação, essa teoria tem sido usada para descrever filmes e programas de televisão que apresentam características caóticas. Um exemplo recente é o filme Cidade de Deus. Nele podemos encontrar todas as características da comunicação caótica: fatos fragmentados, muita informação em pouco tempo, padrões estéticos complexos, dependência sensível das condições iniciais, padrões mais complexos à medida em que nos aprofundamos nos fenômenos e na vida dos personagens.. A Dependência sensível das condições iniciais pode ser percebida, no filme Cidade de Deus, por exemplo, no momento em que o personagem Busca-pé tenta praticar um assalto. O fato do assalto dar errado vai evitar que ele entre no mundo do crime e, portanto, molda o seu destino. Como esse, há vários outros Efeitos Borboletas no filme.

As vezes achamos que podemos controlar o futuro e que ele pode ser da forma que idealizamos e tentamos fazer tudo de forma controlada e ordenada em todas as áreas de nossa vida, não estou dizendo para deixar a vida nos levar, mas estou dizendo que não temos controle do futuro e nem do que pode nos acontecer, por que não conseguimos nos ver como um todo, pois existem muitas variáveis que influenciarão o nosso futuro, variáveis externas, condições impostas que muitas vezes nem dependem de nós e quando nos conscientizamos disso vemos o quão limitados somos.

Referências Bibliográficas



Stewart, I. (1991), “Será que Deus Joga Dados? A Nova Matemática do Caos”, Jorge Zahar Editor.





Thompsom, J. M. T & Stewart, H. B. (1986), “Nonlinear Dynamics and Chaos”, John Wiley & Sons, Chichester.





Danton, Gian. A Teoria do Caos. Macapá. 2002





Buffoni, S.S.O. Instabilidade Paramétrica de Colunas. Dissertação de Mestrado. PUC-Rio. 1998

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tomei o Último Tacacá Antes de Retornar ao Rio.


Prezados,

Enfim as minhas férias estão chegando ao fim, mas o bom é que aproveitei bastante e pude rever a família e principalmente tive a alegria de conhecer a minha segunda sobrinha a Eduarda que é filha do meu irmão Daniel e cunhada Rose. Ela é linda! É a mais nova sensação da família.

Enfim, depois de comer todas as iguarias do Pará durante o mês de dezembro, hoje eu tomei meu último Tacacá.

Para quem não sabe...

Tacacá é uma iguaria da região amazônica brasileira, em particular do Acre, Pará, Amazonas, Rondônia e Amapá. É preparado com um caldo fino de cor amarela chamado tucupi, sobre o qual se coloca goma, camarão e jambu. Serve-se muito quente, temperado com sal e pimenta, em cuias. O tucupi e a tapioca (da qual se prepara a goma), são resultados da massa ralada da mandioca que, depois de prensada, resulta num líquido leitoso-amarelado. Após deixá-lo em repouso, a tapioca fica depositada no fundo do recipiente e o tucupi, na sua parte superior.

Sua origem é dos indígenas paraenses e, segundo Câmara Cascudo, deriva de um tipo de sopa indígena denominada mani poi. Câmara Cascudo diz que “Esse mani poí fez nascer os atuais tacacá, com caldo de peixe ou carne, alho, pimenta, sal, às vezes camarões secos.

Serve-se em cuias. Coloca-se primeiramente um pouco de tucupi e o caldo da pimenta-de-cheiro com tucupi. Acrescenta-se a goma e arranjam-se os ramos do jambu de modo bem distribuído. Colocam-se os camarões e acrescenta-se mais tucupi até quase completar a cuia.

Toma-se o tacacá – não se diz comer, nem beber – levando-se os lábios até a cuia, sorvendo em pequenas quantidades o tucupi , misturado com a goma. Tradicionalmente não se usa nenhum instrumento para tirar o camarão ou o jambu, usa-se a ponta dos dedos; mas por ser mais prático, adota-se atualmente o palito de madeira.

O jornalista paraense Raymundo Mário Sobral ressalta porém que “é no tacacá que se conhece o paraense. O legítimo jamais cometerá o sacrilégio de tomar tacacá com o auxílio de solerte palitinho”.

Dado que esta iguaria é servida muito quente, passou-se a usar uma pequena cesta na base da cuia - provavelmente a partir da década de 1990 - para proteger as mãos de quem consome o tacacá.

É habitual consumir-se o tacacá no final da tarde, em via pública, nas tradicionais tacacazeiras. Não é comum servir-se este prato nas refeições principais.

Bibliografia

Wikipedia

CASCUDO, Câmara Luís da. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2004. 954 p. (1ª ed.: Companhia Editora Nacional, 1967).

CULINÁRIA amazônica: o sabor da natureza. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2000. 150 p.

ORICO, Osvaldo. Cozinha amazônica: uma autobiografia do paladar. Belém: Universidade Federal do Pará, 1972.